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O filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte nasceu numa família muito pobre, e, para conseguir concluir os estudos de Teologia (em Iena e Leipzig), foi preceptor na Alemanha e na Suíça. Em 1790, entrou um contacto com a filosofia de Kant, facto que iria marcar de forma decisiva o seu pensamento. No ano seguinte deu a ler ao próprio Kant o manuscrito da sua primeira obra, inteiramente dentro do espírito kantiano, Tentativa de uma crítica de toda a revelação, publicada em 1792. Em 1794 foi nomeado professor da Universidade de Iena, aí permanecendo até 1799. Datam deste período as suas obras mais importantes e originais: Fundamentos da doutrina da ciência (1794), Fundamentos do direito natural segundo os princípios da doutrina da ciência (1796) e Sistema de filosofia moral segundo os princípios da doutrina de ciência (1798). Acusado de ateísmo devido a um artigo em que assimilava a divina providência à ordem moral, foi obrigado a abandonar a Universidade, dirigindo-se para Berlim, onde estabeleceu relações com os românticos (Schlegel, Schleiermacher, Tieck). Daí passa por Erlangen (1805) e Königsberg (1806), acabando por regressar a Berlim, ocupada então pelas tropas francesas, onde pronunciou (1807-1808) os «Discursos à Nação Alemã» contra essa ocupação e a favor da emancipação do povo alemão. Foi, depois, professor e reitor da Universidade de Berlim.
Ao longo da sua vida, Fichte reelaborou sucessivamente a sua doutrina (quer no domínio teórico, quer no moral, jurídico e político), sobretudo nos seus cursos universitários que foram publicados postumamente pelo filho.
Para além das obras já citadas, salientam-se: Estado comercial fechado (1800), Lições sobre a missão do Sálio (1794) e exposições mais populares da sua filosofia: A missão dos homens (1800), Introdução à vida feliz (1806) e Características da época actual (1806).
Profundamente influenciado pela filosofia de Espinosa, o ponto de partida da sua filosofia é, na sua formulação inicial, o Eu entendido como actividade criadora, processo infinito, dado numa intuição anterior a todo o conhecimento. A «Doutrina da ciência» é a tentativa sistemática de deduzir do princípio de auto-consciência, toda a vida teórica e prática do homem. Do Eu provém forma e matéria do conhecimento, o que suprime a coisa em si kantiana, deduzindo-se os fenómenos a partir do próprio sujeito. Na realidade, só há dois pontos de partida possíveis para o conhecimento: o Ser, o objecto, donde se chegaria ao realismo; e o Eu, o sujeito, e aqui a perspectiva seria a idealista. Toda a filosofia que parte do objecto é necessariamente conduzida a um determinismo absoluto que nega a liberdade da pessoa. Como Fichte afirma: «o tipo de filosofia que se escolhe, depende do tipo de homem que se é». E Fichte, em nome da liberdade, escolheu um idealismo em que o sujeito é o ponto de partida Absoluto.

Rammenau, 1762 – Berlim, 1814

Vida e obra: aqui.
Traduções e bibliografia em português.
Conferências sobre a vocação do sábio (tradução portuguesa de Artur Morão)
Revista de estudos sobre Fichte.
Rede Ibérica de Estudos sobre Fichte.
Artigo: O nacionalismo de Fichte e a transformação da doutrina da ciênca (Diogo Ferrer, Universidade de Coimbra)
Artigo: O Significado do Conceito em Fichte (Diogo Ferrer, Universidade de Coimbra)
Artigo: Em defesa do «fanatismo moral» de Fichte (Daniel Breazeale, Universidade de Coimbra)
Artigo: De Kant a Fichte: apercepção como fundamento (Thiago S. Santoro, PUC-Rio Grande do Sul)
Artigo: Fichte e o saber absoluto na doutrina-da-ciência de 1804 (Thiago S. Santoro, PUC-Rio Grande do Sul)
Artigo: Kant and Fichte on Intellectual Intuition (M. Kolkman, 2010)

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